O Incansável Cavaleiro

Dr.-Ives-Gandra

. “Enquanto não diminuirmos a saúva da “burocracia aparelhada” em 39 ministérios, é difícil uma reforma tributária real”, afirma Ives Gandra Martins.

*Por Marco Aurélio Bissoli

Ele é um dos nomes consagrados do meio jurídico e um dos grandes poetas da chamada Geração de 45, que uniu o rigor das formas com sensibilidade única na literatura brasileira. Ives Gandra Martins, 79 anos, traz consigo a integridade intelectual e o amor ao país.

Advogado tributarista, professor, escritor e jurista, o autor é também articulista dos principais jornais paulistanos. Com sua argúcia costumeira, brinda seus leitores com pontos de vista pertinentes sobre temas da atualidade. O autor apresenta também o programa Anatomia do Poder, que vai ao ar pela Rede Vida de Televisão.

Ives Gandra Martins é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra. E membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto dos Advogados de São Paulo.

Um dos mais antigos membros da prelazia Opus Dei da Igreja Católica Apostólica Romana no país, o jurista entrou no debate para defender a instituição do retrato feito pelo escritor Dan Brown em seu livro O Código Da Vinci. O jurista garante ter posto abaixo todos os argumentos mostrados na obra.

Ives Gandra Martins, 65 anos, dedicou boa parte de sua vida ao fazer poético. Os versos começaram a ser inscritos aos 13 anos de idade. Todos os 12 livros publicados ao longo da carreira foram reunidos num único volume pelo próprio autor e lançados recentemente sob o título “Poesia Completa” (Editora Resistência Cultural).

Trata-se de uma obra única que apresenta ao leitor o vasto universo construído pelo poeta através de suas vivências pessoais. Transformada em seu porto seguro, a poiésis retém a sublimidade de um simples instante, fazendo-o crescer em graça e sabedoria. “A artrite de mamãe é minha herança,/e quanto mais a sinto, mais a quero”, escreveu o autor.

O volume traz ainda dezenas de poemas dedicados a Ruth, esposa e companheira de toda a vida de Ives Gandra Martins. “O tema do meu verso é sempre o mesmo -/espaço, tempo, amor e nostalgia”. Sua poesia também abre espaço para a reflexão política, a crônica de momentos, dialoga com as lendas, versa sobre o amor à pátria, entre outros temas.

Com belíssimo prefácio do Príncipe dos Poetas Brasileiros, Paulo Bomfim, e apresentação do pianista e irmão do autor, o maestro João Carlos Martins, o volume traz ainda projeto gráfico, capa, ilustrações e diagramação de Caroline Rêgo, cujo trabalho enche de beleza os olhos do leitor.

A seguir você confere uma entrevista exclusiva concedida por Ives Gandra Martins, que fala sobre o saldo das últimas eleições, a necessidade de uma profunda e urgente reforma tributária no Brasil, sua visão sobre o governo da Presidente Dilma Rousseff, e claro, de sua poesia. Confira:

Em artigos publicados na imprensa paulistana, o senhor tem criticado duramente o governo de Dilma Rousseff. Houve um fracasso em seu projeto político?

É um fracasso. Escrevi um artigo recente sobre minhas irritações com a presidente, a quem apoiei nos primeiros meses de governo. Alta inflação, baixo PIB, contas públicas desajustadas, déficit real na balança comercial e no superávit primário coberto por manobras contábeis, aumento da miséria em 2013 para 2014, conforme denunciado pelo IPEA, perda de grau de investimento internacional por renomada agência de “rating”, desatrosa e desestimuladora política tributária, corrupção dominante na Petrobrás, que só pode decorrer de incompetência (8 anos de assalto às suas contas) ou conivência, algo que está sendo apurado, desconstrução do Itamarati, submissão aos títeres bolivarianos que impõem suas exigências cada vez maiores ao governo brasileiro, além de um elenco infindável de desastres parciais nas diversas áreas de sua administração.

Muito se falou do baixo nível das campanhas presidenciais e de um país dividido após o resultado das urnas no pleito deste ano. O senhor concorda com tais afirmativas?

Sim. A presidente com 38% dos eleitores inscritos e com uma campanha, à Goebbels, de destruição de reputações, comandada por um publicitário imitador das técnicas daquele auxiliar de Hitler, abriu um fosso que só o tempo mostrará se poderá ou não ser transposto. É difícil dialogar com quem, durante meses, especializou-se em dizer inverdades e desfigurar imagens.

A necessidade de uma profunda reforma tributária é um tema antigo dentro da política nacional. Ela chegou até mesmo a servir de inspiração para o senhor no campo da poesia, na qual “O cinismo fiscal (…) contamina os governos desfalcados”. O que fazer para mudar esse quadro?

Fui membro da Comissão, denominada para nosso desconforto, “de Notáveis” pelo Senado. Apresentamos 12 anteprojetos –éramos 13 os especialistas– para o governo. Estão adormecidos nas gavetas daquela Casa Legislativa. É que a reforma tributária depende de uma reforma administrativa. A máquina burocrática esclerosada e inchada absorve as forças da nação e condiciona o nível da carga fiscal. Enquanto não diminuirmos a saúva da “burocracia aparelhada” em 39 ministérios, é difícil uma reforma tributária real.

Novo livro reúne 65 anos de trabalhos dedicados a poesia, porto seguro de todas as horas para o autor.

Novo livro reúne 65 anos de trabalhos dedicados a poesia, porto seguro de todas as horas para o autor.

Uma das mais frutíferas e importantes instituições católicas, a Opus Dei, nos últimos anos tem sido alvo não só de curiosidade do grande público, como também de críticas, principalmente após o livro O Código Da Vinci (Dan Brown). Como membro da instituição, como analisa essa situação?

No meu artigo “A farsa consagrada” aponto todos os erros palmares de Dan Brown sobre a Igreja e sobre o Opus Dei, que o faria ser reprovado em qualquer vestibular de história de qualquer faculdade de país civilizado. Como a “mentira promovida” vende, vendeu os livros, que, todavia, caíram no esquecimento, enquanto a Igreja e o Opus Dei, por serem instituições eternas, permanecem inatingidas. O Opus Dei é uma prelazia pessoal com um único objetivo: o de promover a santificação do trabalho ordinário. Por esta razão o seu fundador, Josémaria Escrivá, foi canonizado e seu sucessor, Dom Álvaro, beatificado. Seguem meus “Decálogo do trabalho ordinário” e “Decálogo do Advogado” inspirados em São Josémaria Escrivá.

Como representante da chamada Geração de 45, o senhor se coloca como um amante da forma fixa por excelência, o soneto. Esse exercício de lapidação das palavras e dos versos foi algo caro à sua escrita?

Sou amante da forma e do conteúdo. Poema tem que ter melodia. Muitos dos poetas atuais, incapazes de musicarem com palavras seus versos, atacam a forma clássica, mas, muitas vezes, apresentam mais reflexões, que pretendem poéticas e que não chegam a ser filosóficas, dizendo serem versos. A Geração de 45 resgatou a forma clássica e deu conteúdo moderno às idéias. O soneto, que Paulo Bomfim, chama de “traje a rigor” da poesia exige o talento de colocar todo um poema em apenas 14 versos. Considero a mais perfeita forma poética, seja no estilo inglês ou italiano.

O que significa reunir e publicar todo o seu legado poético em um único volume nesse momento de sua carreira?

Alegra-me muito ter podido colocar 12 livros de poesia num só. Se será ou não um legado poético só o tempo dirá.

Ao ler o livro, impressiona o número de poemas dedicados à sua companheira de mais de 60 anos, Ruth. Qual a exata dimensão da presença dela dentro da sua jornada existencial e literária?

Ruth é tudo na minha vida. Colega de classe, mãe de nossos seis filhos, 61 anos de namoro, 56 de casados, estando comigo, nos bons e maus momentos, e fazendo-me de novo conviver com Deus, na religião Católica. Tornou-se, pois, a própria razão de ser da minha vida. Nada mais lógico, portanto, que grande parte de meus poemas lhe sejam dedicados.

Seu eu lírico parece reunir em si a fé, a esperança e a caridade, três virtudes teologias por excelência. Neste sentido, é possível falar em uma ‘poesia genuinamente católica’?

O livro é um livro com muitos poemas dedicados à Deus, à Virgem e ao nosso universo católico. É impregnado por ele. É, todavia, também, um livro romântico, de crítica política, de poemas épicos, de lendas etc.

O senhor afirma que a poesia constitui um porto seguro frente à massificação da arte transformada em entretenimento e a destruição dos valores tradicionais. Poderá ela vencer essa batalha?

A arte é constituída de obras clássicas e atuais para a época. Ptolomeu foi um cientista atual para a época, mas sua teoria não permaneceu. Copérnico ficou clássico e sua teoria permanece. Salieri foi um compositor querido à época, Mozart um compositor clássico. Mozart permanece, Salieri não. Em outras palavras, a arte eterna fica, aquela apenas contemporânea não resiste ao tempo.

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Sobre marcobissoli

Jornalista, profesor de Literatura e blogueiro
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