Olavo tem razão

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O filósofo brasileiro Olavo de Carvalho durante as filmagens de O Jardim das Aflições, no Estado da Virginia, nos EUA. Obra procura reconstruir pensamento do autor por meio de imagens ( Fotos Matheus Bazzo e Mauro Ventura)

O filósofo, professor e jornalista Olavo de Carvalho é persona non grata no meio da intelectualidade brasileira. Longe do pensamento marxista – leia-se comunista, que forjou boa parte de uma geração de jornalistas, professores e pensadores nas últimas décadas no país, este senhor 68 anos virou uma espécie de bastião sagrado da direita, católica e conservadora.

Depois de décadas atuando de forma independente no Brasil através de artigos, aulas presenciais e online e dezenas de livros publicados na área da Filosofia, Olavo de Carvalho se viu recentemente diante das lentes do jornalista e escritor recifense Josias Teófilo, 29 anos, que acaba de produzir um documentário sobre ele.

Filmado no Estado da Virginia, nos Estados Unidos – onde o filósofo reside com a família, O Jardim das Aflições, em fase de montagem, procura desvendar o pensamento do homem que certa vez escreveu: “A essência da mentalidade conservadora é a aversão a qualquer projeto de transformação abrangente, a recusa obstinada de intervir na sociedade como um todo, o respeito quase religioso pelos processos sociais regionais, espontâneos e de longo prazo, a negação de toda autoridade aos porta-vozes do futuro hipotético”.

Além de se dedicar à literatura e a produção cinematográfica, Josias Teófilo é também articulista da Revista Continente. O blog A Torre conversou com o autor para falar o documentário, cujo lançamento não tem data definida. Confira o bate-papo:

Como surgiu a ideia de fazer o documentário O Jardim das Aflições?

Surgiu a partir da necessidade que eu vi de retratar essa figura que é, por si próprio, cinematográfica – a vida de Olavo de Carvalho é muito cheia de imagens. Ele atira, caça, vive num lugar paradisíaco, cercado da família e de uma imensa biblioteca, vai à missa numa igreja belíssima com uma ótima programação musical. É muito difícil fazer um filme sobre filosofia, dado que traduzir em imagens um pensamento é algo extremamente complexo. Note que existem muito poucos filmes sobre filosofia, e menos ainda bons filmes. Olavo nos deu uma oportunidade imensa que é de registrar um filósofo, no seu ambiente ou circunstância, refletindo sobre vários temas que lhe são caros. De modo que não só ele fala, mas o próprio ambiente também fala através de imagens.

Fale um pouco de como se deu a pré-produção, filmagem e pós-produção do filme (pesquisa, tempo de filmagem, locação etc).

O financiamento coletivo foi dividido em três fases: a primeira para a realização do roteiro e fotos para o cartaz, a segunda para a filmagem e a terceira para finalização e distribuição. Já realizamos as duas primeiras, a terceira vai ser iniciada agora ainda em novembro e quem doar vai receber inclusive o DVD do filme, depois de circular por festivais e pelo cinema comercial.

Por que optou pelo financiamento do filme pela plataforma crowdfundig (financiamento coletivo) ao invés do financiamento estatal?

Primeiro porque seria provavelmente impossível captar recursos estatais para um filme sobre Olavo de Carvalho, que é a figura mais relevante da oposição no país, mas também porque seria incompatível com o seu pensamento. Ele me disse: dinheiro do Estado faz mal! E ele próprio nunca foi financiado pelo governo.

O Jardim das Aflições é um filme manifesto sobre o pensamento de Olavo de Carvalho ou uma homenagem a ele? Nesse sentido é um filme chapa-branca sobre o filósofo?

O Jardim das Aflições não é um manifesto porque nenhuma obra de arte verdadeira pode sê-lo, e nem é uma homenagem, também não é chapa-branca porque não é sobre ele, mas é, por assim dizer, com ele. É na verdade uma viagem guiada pelo seu pensamento, tendo como pano de fundo a vida cotidiana e a sua, para usar um termo de Ortega y Gasset, circunstância. Desde que fomos à Virgínia Olavo disse que não queria um filme sobre ele, mas em que fosse enfocada a mensagem que ele tem para dar – e essa já era minha intenção original. O filme, então, é sobre os temas que ele fala. Esses temas ainda são segredo, quem ver o filme saberá.

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O diretor ao lado do filósofo Olavo de Carvalho

Sabemos da dificuldade que muitos cineastas brasileiros têm com relação à distribuição de seus filmes no circuito, digamos, comercial. Isso é uma preocupação no seu caso? O filme, a seu ver, pode virar um blockbuster ou terá um público específico, no caso as “olavetes”?

É sim, até porque nós não sabemos quando captaremos os recursos para distribuição. O que é certo é que o filme tem um público potencial imenso e não é voltado exclusivamente para o público “olavete” (alunos e admiradores de Olavo de Carvalho). O filme é voltado para o público em geral, basta ter interesse por filosofia ou para entender a vida mais a fundo, por assim dizer.

Você se recente da grande mídia não ter dado muito bola para esse projeto?

A grande mídia não foi informada sobre o projeto ainda, não é que ela não tenha dado bola – não enviamos release nem nada pra eles. Com relação à mídia de uma forma geral, temos tido uma recepção maior do que eu poderia imaginar: tivemos uma foto de página inteira na capa do Caderno Viver do Diario de Pernambuco, o mesmo no Jornal do Comércio, e eu dei várias entrevistas para veículos pelo Brasil.

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“Olavo de Carvalho não é valorizado pelos formadores de opinião – ou seja, pela elite que a tudo controla nesse país. Ele é valorizado pelos seus tantos milhares de leitores e alunos”, diz Josias Teófilo.

Como foi a sua convivência com Olavo de Carvalho durante as filmagens? Qual a reação dele ao ver seu cotidiano ser invadido por uma equipe de filmagem?

Foi uma experiência incrível, não só para mim que concebi o projeto, mas para o resto da equipe que eu convidei – inclusive um deles que é de esquerda e ficou realmente impressionado com o pensamento de Olavo de Carvalho, e com a sua simpatia no trato. Mauro Ventura, que foi meu assistente de direção no filme e que cuida da página dele no Facebook, disse que nunca viu Olavo tão aberto e empolgado com um projeto como com o nosso filme. Imagine, 10 dias de filmagem, às vezes várias horas por dia. Perguntei o que ele achou de ser filmado, ele disse que foi uma ótima experiência de condensar seu pensamento e dar um panorama geral.

Olavo de Carvalho sempre foi uma espécie de corpo estranho no universo da intelectualidade brasileira, fortemente marcada pelo pensamento marxista. Para você, qual a razão de seu pensamento ser pouco valorizado dentro de seu próprio país?

Suponho que não seja valorizado pelos formadores de opinião – ou seja, pela elite que a tudo controla nesse país. Ele é valorizado pelos seus tantos milhares de leitores e alunos.

Quais são as suas principais influências cinematográficas?

Principalmente Andrei Tarkóvski – cineasta que tem uma obra profundamente mística e religiosa, foi por causa dele que eu resolvi fazer filmes. Mas também Robert Bresson, Dreyer, Rohmer. No cinema documentário, os filmes de João Moreira Salles.

Como recebeu as críticas e a indiferença de muitos ex-alunos de Olavo de Carvalho a respeito do filme e do próprio filósofo?

Críticas eu ainda não vi nenhuma, mas indiferença notei de algumas pessoas. Mas isso vai passar quando o filme estiver no cinema, vão vir atrás de mim e vão ser os primeiros a comprar o DVD do filme.

Um dos temas centrais da obra de Olavo de Carvalho é uma volta às origens do pensamento individual, da valorização da alta cultura em face da derrisão dos valores morais, religiosos e éticos. Nesses tempos sombrios em que vivemos em todos esses campos, o filme já nasce atual?

Sua pergunta vai no âmago do que o filme trata. É exatamente isso, e Olavo de Carvalho mostra exatamente no filme como lidar com esses tempos sombrios.

Quais são as suas expectativas para a finalização do projeto? Há uma data prevista para o lançamento do filme? As pessoas que quiserem colaborar podem fazê-lo? De que forma?

Eu espero terminar a montagem do filme em janeiro, mas isso vai depender das doações para finalização e distribuição. Quem quiser colaborar com o filme pode entrar no nosso site e fazer sua doação: http://www.ojardimdasaflicoes.com.br .

Sobre marcobissoli

Jornalista, profesor de Literatura e blogueiro
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2 respostas para Olavo tem razão

  1. Maura disse:

    Por favor, corrijam a palavra “recente” da pergunta “Você se ressente da mídia….?”. Afinal estamos falando de um dos homens mais inteligentes do Brasil: o professor Olavo de Carvalho. Vamos corrigir aeh, please. Thanks a lot.

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